Há coisas que não podem ficar entaladas cá dentro!

17
Jun 14

Já perdi tanto. Continuo a perder tanto... o pior é que estou a perder também a vontade de viver.

Sinto-me uma marioneta nas mãos de um Deus com um sentido de humor muito estranho.

Vozes ecoam dentro de mim dizendo "não vales nada"... "não fazes nada bem" e isso cada vez faz mais sentido porque sinto por mim a mesma repulsa que os outros demonstram sentir.

 

Não sei o que descuidei mais, se foi a minha aparência se foi a minha cabeça... Porque neste momento parece que ninguém sente desejo da minha existência.  

publicado por Palavras Rasgadas às 21:14
sinto-me: Perdida

02
Mar 12

 

"Meu lema é: a linguagem e a vida são uma coisa só. Quem não fizer do idioma o espelho da sua personalidade não vive; e como a vida é uma corrente contínua, a linguagem deve evoluir constantemente"

 

Guimarães Rosa

 

 

 

 

Já lá vão alguns anos, que a mim parecem já muitos, desde que aprendi a escrever. Naquela altura sentia que cada passo era importante: uma letra, depois outra, as duas juntas... e de repente PLIM PLIM PLIM uma palavra. Sentia que podia fazer magia com a minha varinha mágica de ponta de carvão!

 

Fui crescendo e a minha escrita também! Pouco a pouco fui conhecendo o necessário para que aquilo que escrevia fosse perceptível. Simples respostas de testes eram um verdadeiro desafio! Tantas palavras que podia utilizar, quais seriam as melhores? Claro que nem sempre escolhi as mais apropriadas mas até com isso aprendi. O problema, chamemos-lhe assim, é que esta miúda era teimosa e insaciável. Queria mais. E ainda hoje continua a querer. 

 

Sinto que o meu cérebro é um poço sem fundo! Um poço que não quer sentir secura e que quanto mais água o céu lhe dá mais a sede aumenta. E quero muito sentir esta sede até o dia em que morrer porque só assim terei a certeza que tive vontade de crescer a cada dia.

 

Pego numa folha e começo a rabiscar. Uma palavra seguida de outra e outra e de repente PLIM PLIM PLIM mais um truque de magia: por trás de uma ortografia medonha consigo esconder uma sequência de palavras, às vezes com um significado quase tão medonho como o seu arredondamento, mas não deixam de ser as palavras que eu escolhi usar para desenhar aquilo que penso, que sinto ou que simplesmente anseio dizer.


Pelo menos aqui posso rasurar, apagar ou emendar aquilo que não está tão bem… as palavras ditas essas não voltam atrás. 

publicado por Palavras Rasgadas às 19:44
música: A Carta que nunca te escrevi - Boss AC
sinto-me: Com vontade de escrever

17
Out 11

Faz tempo que deixei de ser criança, faz ainda mais tempo que não me vejo como uma. No entanto, quando busco pelas recordações de outrora, revivo sensações tão próximas... Hoje, pensando comigo mesma, comecei a recordar tudo aquilo que já fiz e que agora me parece tão surreal. No fim de contas cá dentro não moram apenas conhecimentos adquiridos de livros, jornais e enciclopédias. Eu tive, em tempos, uma vida que para muitas crianças de hoje lhe parecería ridícula. Ridícula... ridícula não. Para mim foi a melhor infância, uma infância de saber experimentado.

 

Eu corri montes, rasguei as minhas pernas em bicos e silvas e caí sobre pedras. Eu andei descalça pela rua com uma fatia de pão acabado de cozer na mão. Agarrei com as minhas mãos em tripas de porco em inúmeras matanças. Como eu adorava os dias de matança, aquele cheiro a carne misturado com o da terra ao nosso redor, a camaradagem, o sabor da carne acabada de sair do fogo...

Em tempos também fui capaz de ir alimentar as galinhas e de lhes ir roubar os ovos. Como se elas se importassem... pelo menos eu não me importava nada de comer aqueles belos ovos usados em bolos deliciosos. Ah! E sim, eu também raspei a massa dos bolos com os meus dedos e inocentemente os levei à boca. Tomei banho de mangueira quando o calor do verão me ameaçava o corpo. E tomei banho de ribeira quando havia tapetes para serem lavados. E tomei banho de tanque quando haviam amigas para brincar.

Bastante cedo aprendi a cortar o meu cabelo, e bastante cedo aprendi que se não queria parecer um rapaz não o deveria cortar sozinha. Também aprendi a colher o fruto da árvore, a limpá-lo no meu vestido e no mesmo instante comê-lo. Soube o que é apanhar alfarrobas. Soube o que é apanhar amêndoas, pegar numa pedra, abri-las e comê-las. Fui capaz de trepar árvores atrás de gatos e fazer delas o meu castelo.

 

Infância perdida? Sim, mas não a minha. As crianças de hoje é que estão a perder todos estes e outros momentos que uma vida pode proporcionar. Provavelmente os meus filhos também perderão muitos, mas vão saber de onde vêm realmente os ovos e o leite.

 

Vão saber que a verdadeira felicidade está nas coisas espontâneas e simples da vida. 

 

 

publicado por Palavras Rasgadas às 20:13
sinto-me: Nostálgica
música: Velha Infância - Tribalistas

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