Há coisas que não podem ficar entaladas cá dentro!

17
Jun 14

Já perdi tanto. Continuo a perder tanto... o pior é que estou a perder também a vontade de viver.

Sinto-me uma marioneta nas mãos de um Deus com um sentido de humor muito estranho.

Vozes ecoam dentro de mim dizendo "não vales nada"... "não fazes nada bem" e isso cada vez faz mais sentido porque sinto por mim a mesma repulsa que os outros demonstram sentir.

 

Não sei o que descuidei mais, se foi a minha aparência se foi a minha cabeça... Porque neste momento parece que ninguém sente desejo da minha existência.  

publicado por Palavras Rasgadas às 21:14
sinto-me: Perdida

30
Mar 14

Há noites mal dormidas que nos trazem velhos fantasmas. Aquele medo teima em reaparecer. Já não sou capaz de olhar o espelho com medo do que o meu reflexo me possa dizer. Tenho medo de não me encontrar. 

Mas afinal o que é que eu sou? O que é que valho?... Muitas vezes a melhor resposta que encontro é: NADA. 

Este sentimento de não ser entendida, de não ser acarinhada, de não encontrar força, de não ser nada vai destruindo-me ao poucos e, em breve, não restará nada. Para me entregar ao abismo falta, apenas, um passo ou um desequilibrio, talvez.

E encontro, apenas, uma certeza: ninguém vai procurar-me depois porque a solidão faz, já, parte do meu código genético. 

 

 

publicado por Palavras Rasgadas às 13:43
sinto-me: nada

24
Jan 13

"[...] N'uma espiral, de estranhas contorsões, 
E d'onde saem gritos e lamentos, 
Vejo-os passar, em grupos nevoentos, 
Distingo-lhes, a espaços, as feições... [...]"


Num TurbilhãoAntero de Quental

 

 

 

Relendo o que escrevi em linhas passadas releio-me também. Continuo sem perceber se realmente perdi o meu dom (o de perdoar) ou se simplesmente aprendi a selecionar as pessoas que o merecem receber.

Nunca virei a cara a ninguém, no entanto quando comecei a perder a capacidade de perdoar (ou a ganhar a de selecionar as pessoas certas) comecei também  a não sorrir mais para algumas pessoas. Transformaram-se em simples desconhecidos, fantasmas do acaso de uma dessas ruas que, por vezes, cruzo.


E não me arrependo!


"Valeu a pena", penso quando esses fantasmas tentam assombrar o meu pensamento. Fiquei livre de certos pesadelos que me torturavam os dias, por isso "sim" valeu a pena. 

 

Mas também olho para aqueles com quem partilhei o meu perdão e vejo que fiz a escolha mais acertada. Porque, hoje, eles dão-me vida e fazem-me esquecer os fantasmas de outros dias.

 

publicado por Palavras Rasgadas às 23:39
sinto-me: A mesma!

17
Out 11

Faz tempo que deixei de ser criança, faz ainda mais tempo que não me vejo como uma. No entanto, quando busco pelas recordações de outrora, revivo sensações tão próximas... Hoje, pensando comigo mesma, comecei a recordar tudo aquilo que já fiz e que agora me parece tão surreal. No fim de contas cá dentro não moram apenas conhecimentos adquiridos de livros, jornais e enciclopédias. Eu tive, em tempos, uma vida que para muitas crianças de hoje lhe parecería ridícula. Ridícula... ridícula não. Para mim foi a melhor infância, uma infância de saber experimentado.

 

Eu corri montes, rasguei as minhas pernas em bicos e silvas e caí sobre pedras. Eu andei descalça pela rua com uma fatia de pão acabado de cozer na mão. Agarrei com as minhas mãos em tripas de porco em inúmeras matanças. Como eu adorava os dias de matança, aquele cheiro a carne misturado com o da terra ao nosso redor, a camaradagem, o sabor da carne acabada de sair do fogo...

Em tempos também fui capaz de ir alimentar as galinhas e de lhes ir roubar os ovos. Como se elas se importassem... pelo menos eu não me importava nada de comer aqueles belos ovos usados em bolos deliciosos. Ah! E sim, eu também raspei a massa dos bolos com os meus dedos e inocentemente os levei à boca. Tomei banho de mangueira quando o calor do verão me ameaçava o corpo. E tomei banho de ribeira quando havia tapetes para serem lavados. E tomei banho de tanque quando haviam amigas para brincar.

Bastante cedo aprendi a cortar o meu cabelo, e bastante cedo aprendi que se não queria parecer um rapaz não o deveria cortar sozinha. Também aprendi a colher o fruto da árvore, a limpá-lo no meu vestido e no mesmo instante comê-lo. Soube o que é apanhar alfarrobas. Soube o que é apanhar amêndoas, pegar numa pedra, abri-las e comê-las. Fui capaz de trepar árvores atrás de gatos e fazer delas o meu castelo.

 

Infância perdida? Sim, mas não a minha. As crianças de hoje é que estão a perder todos estes e outros momentos que uma vida pode proporcionar. Provavelmente os meus filhos também perderão muitos, mas vão saber de onde vêm realmente os ovos e o leite.

 

Vão saber que a verdadeira felicidade está nas coisas espontâneas e simples da vida. 

 

 

publicado por Palavras Rasgadas às 20:13
sinto-me: Nostálgica
música: Velha Infância - Tribalistas

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