"[...] N'uma espiral, de estranhas contorsões,
E d'onde saem gritos e lamentos,
Vejo-os passar, em grupos nevoentos,
Distingo-lhes, a espaços, as feições... [...]"
Num Turbilhão, Antero de Quental
Relendo o que escrevi em linhas passadas releio-me também. Continuo sem perceber se realmente perdi o meu dom (o de perdoar) ou se simplesmente aprendi a selecionar as pessoas que o merecem receber.
Nunca virei a cara a ninguém, no entanto quando comecei a perder a capacidade de perdoar (ou a ganhar a de selecionar as pessoas certas) comecei também a não sorrir mais para algumas pessoas. Transformaram-se em simples desconhecidos, fantasmas do acaso de uma dessas ruas que, por vezes, cruzo.
E não me arrependo!
"Valeu a pena", penso quando esses fantasmas tentam assombrar o meu pensamento. Fiquei livre de certos pesadelos que me torturavam os dias, por isso "sim" valeu a pena.
Mas também olho para aqueles com quem partilhei o meu perdão e vejo que fiz a escolha mais acertada. Porque, hoje, eles dão-me vida e fazem-me esquecer os fantasmas de outros dias.